O RESPEITO AO OUTRO QUE CONVIVE COMIGO E ME LEGITIMA COMO SER HUMANO

06/12/2011 18:03

 

  Jorge Henrique Mendoza Posada

Professor da PUC Minas

 

  O Capitalismo contemporâneo tem como uma de suas marcas a indiferença social.  A omissão se incorpora a forma de vida das famílias, dos vizinhos, dos colegas de trabalho. Isto produz uma apatia que toma conta dos relacionamentos que se verificam no trânsito, nos ônibus, nas padarias, nos restaurantes, nos bares, nos estádios de futebol, nas praças, nos clubes, nos eventos ao ar livre, nas mercearias, nos postos de saúde, nas escolas, nas ruas, etc. E esta apatia abre caminho para a o vandalismo e a selvageria, para a irresponsabilidade, para a falta de compromisso que rejeita a convivência social.

 

 Os meios de comunicação tanto em termos locais como planetários, incentivam o medo, a desesperança e “curtem” a negação da vida.  A tristeza e a desgraça é que vendem jornal e elevam a audiência na televisão. A conseqüência é o culto ao individualismo e a recusa ao confronto crítico das idéias e a falta de compreensão em relação aos diferentes.

 

     O negativismo se apodera das pessoas e de suas ações, reforçando a idéia de que nada pode ser feito, de que sempre foi assim e que continuara sendo, ou seja, se repudia a possibilidade de um relacionamento mais humano, porque se divulga um falso determinismo social, que tenta defender a naturalidade das barbáries que imperam em nossa sociedade.  O resultado é a indiferença social: a defesa de que nada me comove, nada me indigna, nada me revolta, já que não há nada para ser feito, nada vai mudar.

 

     Neste contexto, muita gente acredita (e não são poucas), que a saída está em “eu por mim, sempre pensando em mim, quem torce por mim sou eu”, reforçando aquela de que “ ninguém me ama, ninguém me quer , quem gosta de mim sou eu!”.

 

    Agora, é relevante considerar que no capitalismo há todo um pensamento e comportamento que robustece este individualismo que nos leva a esquecer uma lei básica de gênese do ser humano: viver é compartir, é ser no mundo, no conjunto dos outros seres, no relacionamento social.

 

   É importante acabar com essa concepção de que o homem é o lobo do homem e descobrir que independentemente das individualidades, que precisam ser respeitadas e aceitas, a dimensão maior é que estamos todos juntos no mesmo caminhão da passagem da vida.  Principalmente, porque somos mortais e o sentido de viver está na construção social da dignidade e existir com os outros que nos legitimam no banquete da humanidade.

 

     As tentativas de mutilar o exercício das liberdades religiosas, de acabar com as diversidades de opiniões, de negar o direito à vida dos diferentes, terminam num fundamentalismo perigoso, porque carrega em si uma mensagem de pretensa superioridade de um privilegiado grupo. Grupo social que se alimenta de saudades da ditadura e de suas práticas criminosas. Sim, infelizmente, temos muitas viúvas e viúvos das ditaduras que prevaleceram na América Latina no século passado.

 

     No bom combate a este tipo de comportamento, está passando da hora de compartilhar sentimentos e organizar ações em defesa da vida. O imobilismo nunca foi sinal de sensatez ou de sabedoria. Viver em sociedade se justifica quando exercemos com confiança e maturidade a prática social que consagra o direito de ser cidadão.